Viver é permanecer em dívida, estamos sempre em débito com a mensagem recebida e não respondida em tempo, devendo a nós o que faltou para encerrar uma tarefa. Devemos atenção aos amigos, à família; em atraso com a dieta que deveria ter começado na segunda-feira. Em débito com os boletos. Ufa! Não há contabilidade para tanto. O texto que eu escrevo em débito à coluna passada, que precisa chegar em tempo a você que está lendo e talvez concluindo nestas primeiras linhas que sua vida é uma dádiva; brincando com as sílabas, trocando um 'a' por um 'i' uma dívida.
Foto: Pixabay
Percebam que a própria dívida traz em si a palavra vida, podemos dizer que há vida na dívida, ou dívida na vida. Façam suas apostas! O crédito não é algo ruim, fomenta e move a economia do mundo. No sentindo etimológico, podemos associá-lo a crer, crença de, por isso com fé entregamos algo para alguém na esperança (fé) de receber.
Neste contexto, funda-se uma das bases da relação contratual: o princípio da boa-fé. O que é o crédito se não essa entrega presente, para um recebimento futuro? Eis a crença.
Em outra ordem, se o crédito é positivo, podemos também fazer dele a razão de um dos males da contemporaneidade: o (super)endividamento financeiro.
Vivemos em uma sociedade de consumo, uma sociedade do espetáculo, consequentemente uma sociedade de crédito e por isso uma sociedade de endividados (65% das famílias brasileiras).
Na ironia do crédito ser crença, se o Brasil é uma nação de endividados, a primeira santa brasileira é para os pobres, Irmã Dulce; mas desconfio que para muitos, a dívida nossa de cada dia, somada a juros e taxas, é para o santo das causas impossíveis, oremos a Santo Expedito.